Conexão Paris>Floripa, professor Daniel Cefaï visita novamente o NISP e participa de evento internacional que acontecerá na UDESC

Essa semana será realizado o VIIIº Colóquio Internacional de Epistemologia e Sociologia da Ciência da Administração na ESAG/UDESC, e com ele diversos pesquisadores internacionais e brasileiros que são referências nas sua àreas de pesquisa estarão por aqui. Um deles é o Professor Daniel Cefaï, que é diretor de estudos da EHESS/Paris.

Leia a apresentação na íntegra:

Meu nome é Daniel Cefaï e sou diretor de estudos da “École des Hautes Etudes en Sciences Sociales” em Paris e pesquisador do Centro de Estudos dos Movimentos Sociais (EHESS-CNRS), do qual fui diretor entre 2014 e 2019. As minhas áreas de pesquisa centram-se na sociologia das mobilizações coletivas e dos problemas públicos, nos métodos de pesquisa de campo e na história das ciências sociais nos Estados Unidos, particularmente em Chicago, e na ligação entre a filosofia pragmatista, a teoria política e as ciências sociais. Fui cofundador e presidente da associação francófona para estudos pragmáticos, Pragmata (https://pragmataaep.wordpress.com/) (entre 2016 e 2019) e lancei e por muito tempo dirigi a revista Pragmata.

Esses diferentes elementos explicam em parte o encontro com Carolina Andion na UDESC e Mauricio Serva na UFSC. Os interesses em comum com a Professora Andion estão diretamente ligados à pesquisa sobre as “arenas públicas”, que são espaços-tempos que se abrem quando uma sociedade se depara com situações problemáticas, e que deve detectá-las, identificá-las, analisá-las, descrevê-las, explicá-las, interpretá-las e procurar maneiras de regulá-las ou resolvê-las. Tal abordagem é inspirada em autores pragmatistas como Jane Addams, W. E. B. DuBois, John Dewey, George H. Mead, James H. Tufts ou Mary P. Follett; e ela foi retomada por um certo número de pesquisadores no mundo francófono depois dos anos 1990. É por isso que também temos afinidades com o trabalho de Chantale Mailhot e seus colegas do CRISES (Centre de Recherche Sur Les Innovations Sociales).

Pessoalmente, investiguei a forma como uma política pública foi construída na França para atender os milhares de sem-teto e moradores de rua, em torno do referencial da emergência social. Interessei-me tanto pela génese histórica desta política pública como pelos seus métodos de implementação, pelas diferentes profissões que se mobilizam nestes sistemas e pela descrição, na prática e na interação, daquilo que muitos investigadores passaram a designá-la como “cuidado”. A abordagem foi essencialmente etnográfica e microssociológica. Mas também me interessou, mais recentemente, a forma como a luta pelo direito de voto nos Estados Unidos no início do século XX coexistiu com outras causas, como o acesso a certos estudos e a certos empregos, ter salário e conta bancária, não sofrer mais violência (inclusive sexual), ter direito ao divórcio e à guarda ou o direito ao controle da natalidade. Essas múltiplas mobilizações, cujas arenas se cruzam, estão ligadas as lutas contra o trabalho infantil, ao movimento pacifista ou à liga do consumidor. A abordagem aqui foi histórica. 
Foi para falar sobre tudo isso que fui convidado pela Carolina Andion ao NISP e para aprofundar um relacionamento que remonta a 2014, primeira vez que vim à Florianópolis. Desta vez, ela me pediu para fazer dois cursos com seus alunos e escrever uma palestra de abertura para o VIII Colóquio Internacional de Epistemologia e Sociologia da Ciência da Administração (27 a 29 de abril de 2023). Aceitei de imediato esse convite, que me permite esclarecer algumas ideias sobre a relação entre o conhecimento científico e o senso comum/aprendizagem experiencial e sobre os compromissos ligados à produção do conhecimento ordinário ou à crítica de certos empreendimentos científicos. É uma discussão antiga que tenho com Maurício Serva e Carolina Andion (companheiros de viagem) que integram o pragmatismo em seus trabalhos e pesquisas, além de nos enviarem alunos para Paris – que nos ensinaram mutuamente muitas coisas. Em 2019, quando fui a Florianópolis, pude acompanhar o trabalho do NISP e do Observatório de Inovação Social de Florianópolis (OBISF), conheci os pesquisadores e alunos do projeto (posteriormente, em 2021, participei do defesa de tese de Thiago Magalhães), e também tive a oportunidade de conhecer várias lideranças do movimento de associações pelos direitos da criança e do adolescente da cidade. Esse projeto é top, na minha opinião, e a Professora Andion teve a gentileza de escrever um artigo para a revista Pragmata intitulado “Observatório de Inovação Social de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil: investigar e experimentar no coração da vida cívica” (publicado na França, revista Pragmata, n° 4, 2020, p. 624-667). Com Carolina Andion, temos, portanto, muitas áreas de interesse em comum e, de minha parte, gostaria de refletir com ela e com a professora Mailhot sobre esses OIS no futuro. A ideia de experimentação e inovação fez seu caminho na França nos últimos anos (sem qualquer ligação com o pragmatismo, que foi o primeiro a desenvolver uma reflexão sobre esta questão) e contra a New Public Management (Nova Gestão Pública), imaginam-se novas formas de produzir políticas públicas ao nível da administração territorial.

Daniel Cefaï

Revisão de texto e arte – Diego Cabalheiro (Responsável de Comunicação)

Texto – Alicia Possamai (Bolsista de Extensão)

Arte – Ana Duarte (Bolsista de Extensão)

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