Resenha sobre a reportagem: “Servidores insatisfeitos trocam o funcionalismo público pelo setor privado”, do Jornal Correio Braziliense. Dia 29 Mar. 2015.
Por Nícola Hilário Martins
Acadêmico do 6º termo do Curso de Administração Pública da ESAG/UDESC
A reportagem do jornalista Bernardo Bittar conta a história de pessoas comuns que foram aprovados em concursos públicos e que, ao contrário de tantos que buscam ingressar no serviço público, não se adaptaram ao trabalho e resolveram buscar o sucesso profissional na área privada. Atualmente, a reportagem mostra, pesquisas apontam que cerca de 50% dos estudantes universitários brasileiros pensam em ingressar no serviço público. O principal motivo alegado por eles para buscar a aprovação em concursos é a estabilidade profissional, gerada a partir da ilusória impressão de que “não se pode demitir funcionário aprovado em concurso”.
Alguns dos exemplos ressaltados por Bittar levam em conta profissionais que não se adaptaram à morosidade e à falta de perspectiva dentro do setor público. Marcelo Holtz, de 27 anos, um dos personagens da reportagem ressalta: “O salário no fim do mês não pode ser encarado como um prêmio. Quem enxerga a remuneração com esses olhos, certamente está no lugar errado”, além de que “as pessoas confundem estabilidade com comodidade. É preciso arriscar”.
A reportagem fez-me lembrar muito dos conhecimentos obtidos no fim de minha primeira graduação, o curso de Jornalismo, quando estudamos exaustivamente as gerações e foquei meus estudos principalmente na Geração Y, como são conhecidos os nascidos entre a segunda metade da década de 1980 e o final da década de 1990.
De acordo com o autor Sidnei Oliveira, um dos principais estudiosos do Brasil sobre gerações com foco principal na Geração Y ressalta que os nascidos nessa época têm quatro principais pontos de ação: Reconhecimento; Inovação; Liberdade; e Resultados. Por esse motivo, muitas vezes entram em conflito com chefes ou subordinados que sejam de gerações diferentes.
O Reconhecimento, pela velocidade que essa geração vive, é algo esperado por eles quase que imediatamente. Os jovens de Geração Y não estão acostumados a demorar para mostrar seus sentimentos e esperam o mesmo de chefes e superiores. Nesse ponto também entram os Resultados. Acostumados a jogos de videogame onde os louros da vitória são buscados incansavelmente, os jovens da Geração Y também querem-nos rápido.
A Liberdade é muito prezada por esses jovens, que não aceitam ordens impostas. As ordens devem ser dialogadas, sob pena de o superior se tornar um tirano e não obter mais o respeito desses jovens. Nesse ponto, vale ressaltar que esses jovens assemelham-se muito ao Novo Serviço Público, onde as soluções são buscadas em conjunto com os cidadãos.
Já a inovação é uma marca dessa geração. De 1990 a 2000 o mundo vivem um “boom” que equivaleu a décadas de inovação e tecnologia anteriores. O avanço nas tecnologias de comunicação por meio de telefones móveis e microcomputadores impulsionou o desenvolvimento também desses jovens, que veem a velocidade dos acontecimentos como algo natural, diferente de seus pais (Geração X) ou avós (Geração Baby Boomers) que se acostumaram à lentidão, ou melhor, a uma velocidade muito mais lenta nos acontecimentos.
Desta forma, podemos perceber que os Geração Y têm certa dificuldade em trabalhar em órgãos públicos burocráticos e sem cultura de inovação. É importante que o serviço público esteja preparado para receber esses jovens e com capacidade de integrá-los a uma nova forma de lidar com os serviços públicos.